quinta-feira, 10 de julho de 2014

Distante

Fazia frio, como sempre.
O portão que demarcava os limites da propriedade abria e fechava com o vento indeciso da noite solitária. As luzes do casebre estavam completamente apagadas, mas ela não tinha medo do escuro. Não mais. Sentada no pequeno degrau na varanda, a garota observava, em silêncio, o movimento na casa ao lado. O pequeno lampião aceso sobre a cerca iluminava a dança de dois apaixonados. O garoto dos seus sonhos agora bailava e ria com uma desconhecida, a qual já namorava havia um tempo desinteressante. Ainda assim, dava para ouvir, ao longe, o som da felicidade e de alguns "eu te amo", quebrando o silêncio confortante da madrugada no campo.
Apesar de tudo isso, ela continuava ali. Observando. Quieta. Ao longe. Sempre ao longe. Distante. Invisível. Sempre.
De repente, o último foco de luz por aquele fim de mundo se apagou. Eles haviam entrado, ainda animados e felizes, prontos para fazer sabe-se lá o que ao longo do resto da noite. Já fazia bastante tempo que frio não era problema para o seu vizinho.
Demorou um minuto  talvez dois  para a garota perceber lágrimas descendo pelo seu rosto. O costume era tanto que tornava-se difícil notar quando acontecia. Contudo, não houve pressa em secá-las. A pobre menina apenas deixou que percorressem o caminho pelo seu rosto até que cansassem e pingassem no chão.
Há um tempo, haveria ali alguém para aplacar sua tristeza, para fazer-lhe companhia em meio ao breu, para espantar os perigos da escuridão, para provocar risadas por motivos diversos e dar-lhe um beijo de boa noite. Há algum tempo...
O barulho de passos dentro da casa ecoou. Alguém estava acordado e ela sabia bem que não deveria estar ali ainda a essa hora. Enxugou seu pranto rapidamente e, contornando a casa, pulou com facilidade pela janela do seu quarto. Já adequadamente vestida, deitou-se na cama, contendo as lágrimas que ainda restavam, enquanto continuava a observar a noite lá fora.
Fazia frio, como sempre.
O portão estava finalmente fechado.
Ele sempre esteve.


Aluna: Julianna S. Castro
Turma: 1209 / 2014

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